CRÓNICAS E ENTREVISTAS

 COMO ESCOLHER A ESCOLA CERTA?
Publicado em: 10/06/2025
A maior lição de todas é que não há uma escola ideal, não há nenhum projeto educativo que seja bom para todos os miúdos.


Querida Mãe,

Esta é a altura em que tantos pais estão a escolher os jardins de infância e as escolas para os filhos, já para o próximo ano letivo, ou para os seguintes. Alguns pela primeira vez, outros em busca de uma escola nova. E é nesta altura que, como a área da Educação é a minha, perguntam-me frequentemente “Como é que reconheço uma boa escola?”, e a minha primeira resposta é que, antes de mais nada, é fundamental editar a pergunta. Porque o que os pais devem querer saber é “Como reconheço uma boa escola PARA O MEU FILHO?”, já que a maior lição de todas é que não há uma escola ideal, não há nenhum projeto educativo que seja bom para todos os miúdos. Existem, contudo, “green flags”, como hoje se diz, ou seja, indicadores transversais a todos os sítios que nos podem deixar confiantes.

Ficam aqui algumas dessas bandeiras que, essas sim, devem ser universais:

#1 A Escola confia nos pais. Acredita no que lhe dizem e não parte do pressuposto de que sabe mais sobre a criança do que a família. Está tão segura do seu projeto educativo que não tem medo de pais que fazem perguntas ou questionam.

#2 A Escola mostra fascínio por crianças e pelo desenvolvimento infantil. A educação é um dos trabalhos mais difíceis e mais importantes do mundo. É extremamente desgastante e extremamente precioso. As únicas pessoas que podem sobreviver e fazer florescer as escolas são aquelas que têm uma verdadeira vocação e paixão pelo mundo das crianças.

#3 A Escola não tem medo de deixar os pais entrar. Confia no trabalho que faz, tem orgulho nisso, e sabe que quanto mais próximas estiverem as famílias e a escola, maior sucesso (académico e emocional) a criança terá.

#4 A Escola assume, com coragem, as diferenças e a individualidade de cada criança. Não, não disse que a escola escreve estas palavras no projeto educativo, isso é fácil; disse que o assume no dia a dia. E nem sequer estou a falar de casos de necessidades educativas especiais muito flagrantes (embora essas escolas sejam heroicas), refirmo-me a não obrigar as crianças a comer à força, não obrigar crianças a dormir, caso não precisem, ou vice-versa, obrigando as que precisam de sesta a ficarem acordadas. Não obrigam todas as crianças a desfraldar ao mesmo tempo, etc.

#5 Todas as pessoas na escola falam com respeito quando se dirigem às crianças. Respeito não tem nada a ver nem com ser permissivo, nem com ser autoritário. Pura e simplesmente tratam-nas com boa educação e não as humilham.

Mãe, tudo o resto depende dos pais: há pais que procuram escolas com um foco mais académico, outras que desejam uma floresta. Mas deixo um último alerta: devem estar preparados para aceitarem que, muitas vezes, quererem uma coisa para um filho não se revela obrigatoriamente na certa para ele — porque não encaixa no que idealizaram, porque afinal, aquela criança concreta precisa de outra coisa.

Espere, ainda falta mais um conselho — por questões logísticas, procurem algum sítio perto de casa (se for possível!!).

Beijinho, mãe.

***

Querida Ana,

que alegria sinto em já não ter de ir à escola, nem de precisar de levar os meus filhos à escola, e de poder virar a cabeça para o outro lado da almofada às sete da manhã em vez de ter de me levantar para vos arrancar da cama e, quase pior, preparar termos e lancheira. E ainda dizem que não é bom envelhecer! Mães, aguentem, o dia da libertação vai chegar.

Quanto às escolas e aos professores, é um mundo onde devia reinar mais do que em nenhum outro a meritocracia, com mais prémios e mais reconhecimento para as melhores escolas (avaliadas pelos alunos e não pelos rankings), e para os melhores educadores e professores, porque são objetivamente cada um deles que vai fazer diferença na vida das crianças, maiores ou mais pequeninas. Na escola, como num hospital, ou num outro lugar que preste um serviço, os exemplos vêm de cima e, quando isso acontece, estabelece-se um círculo virtuoso que envolve toda a gente e, acredito, que os pais que têm o privilégio de poder escolher um jardim de infância ou uma escola para os filhos sentem-no mal passam a porta.

Agora, Ana, sou eu que termino a dar um conselho: não tenham medo de mudar o vosso filho se ele não estiver feliz. Estive na mesma escola primária que os meus sete irmãos e odiei, enquanto eles pelo menos não se manifestaram com a mesma exuberância do que eu. A minha mãe, tua avó, argumentou que era a prova de que o problema era meu, e provavelmente tinha toda a razão, mas talvez houvesse outra onde me tivesse adaptado melhor e sofrido menos, nunca saberemos. Não advogo uma mudança instantânea, claro, a criança pode estar apenas numa fase de adaptação ou precisar de alguns ajustes que a escola consegue, mas acredito que vale a pena estar atento e dar-lhe uma outra oportunidade, onde inclusivamente possa começar da estaca zero.

Beijinhos


Siga no Instagram: https://www.instagram.com/birrasdemae/
Siga no Facebook: https://www.facebook.com/birrasdemae/