CRÓNICAS E ENTREVISTAS

 A VIDA DE JESUS CRISTO É UMA AULA SOBRE O PRESENTE
Publicado em: 26/03/2024
O resultado é que os anos vão passando e, de repente, já não sentimos nada, ou muito pouco, como se a culpa fosse da “história” de Jesus ser a mesma há dois mil anos e dos rituais idênticos.


Querida Mãe,

Sabe como o tempo começa a passar mais rápido quando somos adultos? Parece que a Páscoa do ano passado foi ontem e já estamos “aqui” outra vez. Talvez seja porque não temos aqueles três meses de férias de verão que pareciam dividir o ano em dois. Ou, provavelmente, porque agora somos nós a organizar tudo e raramente temos oportunidade para nos deixarmos ir e aproveitar o momento. Mas, seja porque razão for, a verdade é que torna muito mais difícil não encarar estas datas, apenas como “mais uma obrigação”, e há uma parte de nós, cansada, que pensa “Que se lixe, para o ano dou a isto mais atenção”, para o ano é que convido a família toda, para o ano é que vou à Vigília, ou à Missa.
O resultado é que os anos vão passando e, de repente, já não sentimos nada, ou muito pouco, como se a culpa fosse da “história” de Jesus ser a mesma há dois mil anos e dos rituais idênticos. Pois. Estava um bocadinho nessa, confesso, mas de repente lembrei-me que a vida de Jesus Cristo não é uma aula de História, uma biografia de uma vida passada, mas uma aula sobre o presente. É a relevância para o aqui e agora que importa. Por isso posso não conseguir fazer uma caça aos ovos, posso não conseguir juntar a família toda, ou comprar guardanapos lindos com coelhinhos, mas está ao meu alcance ler a história de Jesus com fazemos com os bons livros: identificando-nos.
Com o jovem injustamente acusado, mas que manteve a serenidade, e até a ironia e o sentido de humor.
Com a mãe que assiste, impotente, ao sofrimento atroz do seu filho, mas que se deixa consolar.
Com a dor física de ser pregado a uma cruz.
Com a dor emocional de sentir que Deus nos abandonou.
Com o luto de perder um amigo. Com a dúvida e a hesitação sobre o que se passa depois da morte. Com a esperança de que o futuro traga coisas melhores.
Com o medo de estarmos enganados.
Com a certeza de que, ainda que não acreditemos num céu, temos já aqui na terra a oportunidade de ressuscitarmos como pessoas melhores.
Uma Santa Páscoa, querida mãe.

***

Querida Ana,

Obrigada pelo choque vitamínico da tua carta. Estou embrenhada em revisões de um livro, e perdi a noção do tempo, e das pessoas à minha volta, mas obrigaste-me a recentrar a cabeça durante uns minutos, e estou-te grata por isso.
É tão fácil deixarmos que seja a ampulheta do tempo a comandar a nossa vida e não o contrário, tão fácil invertermos as prioridades, na ânsia de atingir objetivos e por mais um tic na nossa infindável lista de coisas urgentes a cumprir. E o que fica, muitas vezes, é o vazio. Por isso aceito o teu repto. Vamos lá ressuscitar, sem adiar para amanhã o que de nós podemos ressuscitar ainda hoje.
Uma Santa Páscoa, querida filha.


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