CRÓNICAS E ENTREVISTAS

 OS NOSSOS ADOLESCENTES SÃO UNS ATADINHOS?
Publicado em: 13/12/2023
Não me quero armar em esperta, mas sintro que falam, falam e falam do PISA sem estarem a ver bem o filme. Referem-se aos resultados desta avaliação internacional, como se fosse uma prova para confirmar se o “programa” foi dado e aprendido, equiparando-o aos famosos rankings, mas o PISA não é um exame. Não se destina a revelar se há uma lacuna na matéria, que mais para a frente se recupera, ou se há muitos alunos de quadro de honra.

É muito, muito mais importante do que isso. Está-se nas tintas para os “sabichões”, que só repetem a “lição”. O que pretende é medir se são capazes de usar as competências de leitura, matemática e ciências para enfrentar — e é este o ponto — “os desafios reais do dia a dia”. Capazes de extrapolar e aplicar os conhecimentos a situações novas, dentro e fora da escola. E isto porque, insistem, “a economia moderna premeia os indivíduos não por aquilo que sabem, mas por aquilo que conseguem fazer com o que sabem”.

Ou seja, quer descortinar se os miúdos de 15 anos conseguem dar uso aos neurónios. Se no final daquele que, em muitos países da OCDE, é o final da escolaridade obrigatória, um miúdo se orienta, se é capaz de medir a mala do carro do pai e perceber se lá cabem as três bicicletas que quer levar para casa de um amigo; se consegue ler o horário das camionetas e descobrir a que horas parte aquela que quer apanhar e a que horas chega ao destino. O PISA quer ter a certeza que estão preparados para ler a bula de um remédio e concluir quantos comprimidos devem tomar, se quando vão comprar roupa “sustentável”, são capazes de interpretar a etiqueta. Se se safam a gerir um orçamento, a fazer as contas necessárias para concluir se o dinheiro chega para comprar um jogo de consola e almoçar, se interiorizaram que perante uma situação em que os recursos são limitados, devem favorecer as opções mais racionais. Se os ativistas do clima, digo eu, para além de atirarem tinta a obras de arte e gritarem contra os jatos, conseguem sustentar os seus argumentos com cálculos sobre emissões de carbono, pegadas ecológicas e coisas que tal. E, se depois de tudo isto, conseguem traduzir as suas vontades e opiniões, reclamações e protestos, em textos claros e eficazes, em propostas criativas. Coisas tão simples como escrever um e.mail a reclamar porque o telemóvel voltou da loja estragado, ou deixar um comentário com pés e cabeça numa rede social.

O objetivo do PISA não é “dar notas”, mas sim fornecer aos pais, aos educadores, e aos governos, a consciência de quão perto ou longe destes objetivos estão os seus filhos, os seus alunos e os seus cidadãos. Até que ponto pais, tios, avós e os professores, claro, fizeram deles totós ou, pelo contrário, lhes deram as armas para se fazerem à vida.
E, chegados aqui, com os últimos resultados “desastrosos” na mão, e conscientes de que já há alguns anos os jovens em quase todos os países da OCDE aparentam ser progressivamente menos competentes do que os seus antecessores — mesmo antes da pandemia —, temos é de nos perguntar o que é que se passa.
Como me recuso às ladainhas das gerações perdidas, as respostas dos Velhos do Restelo ou dos demagogos de serviço, servem-me para muito pouco. Que confinamentos e, depois deles, dois anos de greves constantes, somados a professores desmotivados ou inexistentes, criaram uma enorme instabilidade na vida destes miúdos é óbvio, mas o problema é mais profundo: o jetlag entre a Escola e a vida real cresce a olhos vistos. A questão é se, de uma vez por todas, alguém dá prioridade ao “cliente”. Aos alunos, claro.