CRÓNICAS E ENTREVISTAS

 JÁ NEM O CHATGPT NOS SAFA
Publicado em: 29/11/2023
Juro, julguei que estava a ver um divórcio litigioso em direto. Daqueles das estrelas de cinema, em que à porta do tribunal os paparazzi se lançam sobre a mulher despeitada ou o marido enganado, dando-lhes a oportunidade de lavar a roupa suja. Oportunidade a que se agarram com unhas e dentes, contra todos os ditames do bom senso, e perante quanto mais espetadores melhor.

Sim, foi o que senti quando António Costa se queixou amargamente das traições de Marcelo Rebelo de Sousa, cometidas ao longo dos oito anos de feliz matrimónio que, se soubesse o que sabe hoje, nunca teria abandonado. Acusou o par de ter revelado os segredos da alcova, insinuando que, afinal, não é o que parece, porque até fez uma plástica, o cabelo é postiço e, na realidade, recorre a um duplo para as cenas mais perigosas e admiráveis. Além do mais, é um irresponsável que não merece ficar com a guarda das crianças — a nossa, bem entendido.

Costa reagia às picardias do “outro” que quebrara o pacto, levando os jornalistas — e eles foram! — numa visita noturna pelos lugares onde supliciaram os Távoras, aproveitando para deitar sal nas feridas. Mas, grave tivera o mau gosto de alterar o status do facebook, anunciando a separação consumada, enquanto continuava a garantir às televisões que se mantinha casado... até março.

Como acontece sempre nos divórcios de celebridades, também neste vieram logo os amigos de um e de outro lado, com histórias e historietas, num diz que disse interminável, revelando, os bufos e os seus cúmplices, um repugnante oportunismo. A dada altura, a senhora procuradora entrou em cena no papel da sogra, daquelas que pica nos bastidores, mas em tribunal lava as mãos do triste espetáculo dos seus descendentes, declarando que não era responsável por coisa nenhuma. Já desconfiávamos, mas assim ficamos todos mais seguros de que, realmente, lá em casa cada um faz o que quer.

E enquanto o juiz decide e não decide a partilha dos bens, aproveita-se o interregno para fazer desaparecer o dinheiro das contas, arranjar emprego aos que lhes foram leais, ou ainda podem vir a ser úteis, distribuindo benesses para lixar o “padrasto/madrasta” que venha a seguir, gratos por andar tudo distraído a procurar nos Tinders da vida, os próximos parceiros.

A verdade é que a falta de bom senso até dói, e a ideia de suportar mais cento e vinte dias de governo e partidos em demagogia eleitoral poe-me o cabelo em pé. Desiludida, ocorreu-me votar antes no ChatGPT, sujeitando-o a um interrogatório igual ao que faria a qualquer candidato que merecesse a minha consideração. Perguntei-lhe como baixaria os impostos, mas a resposta foi tão vaga que acreditei estar frente a um primeiro-ministro a sério.
À questão de como melhorar o SNS reagiu como um verdadeiro político: “Garantir acesso à saúde para todos é um desafio complexo”, sugerindo investir mais nas carreiras dos médicos, levando à suspeita de que nesta versão o input dos sindicatos prevaleceu sobre o de Pizarro.
E o que tem a dizer sobre o futuro da Educação? Que “as greves dos professores podem ser resolvidas por meio de diálogo entre os sindicatos de professores e o governo (...), com melhores condições de trabalho e salários adequados”. Pois.
Quando quis conhecer o seu programa de governo para a Nação, debitou mais um chorrilho de banalidades.
Dei-lhe uma última oportunidade: “Onde deve ficar o novo aeroporto de Lisboa?”.
A resposta poderia ser a do “novo” Dr. Nuno Pedro: “A decisão final depende de estudos detalhados e de um equilíbrio entre o desenvolvimento económico e a preservação ambiental”.
Como diria um amigo meu, “Caneco, nem com este nos safamos”.