CRÓNICAS E ENTREVISTAS

 CONFINEM-NOS JÁ!
Publicado em: 22/03/2023
O problema dos transportes também se resolvia num estalar de dedos. Os caprichosos viajantes em lugar de andarem inexplicavelmente revoltados por pagarem um serviço que não recebem, eram poupados a infindáveis viagens enlatados em comboios que não partem, nem chegam a horas.



Juro que não fui contratada nem pelo Governo, nem pelo Partido Socialista, nem tão pouco pela administradora da TAP e, muito menos, pelo Dr. Nuno Pedro, mas apesar disso sinto-me na obrigação moral e patriótica de partilhar com o Dr. António Costa uma solução que o pode ajudar a disfarçar o caos em que estamos metidos. Aqui vai:

Senhor primeiro-ministro decrete um novo confinamento. Aponte o dedo ao vírus da incompetência e nem sequer vai precisar das conferências da Dr.ª Graça Freitas porque está à vista que não só é ainda mais contagioso do que a covid19, como igualmente letal. Empole o facto de não existir vacina à vista, mande-nos a todos para casa e vai ver como num passe de mágica tudo fica sossegado.

A guerra na Educação desaparecia do dia para a noite. Calavam-se os pais ridiculamente preocupados com o facto de os filhos estarem a viver o terceiro ano letivo consecutivo numa montanha russa absoluta. Nem era preciso ressuscitar as variantes da telescola, porque há estudos que indicam que os miúdos aprenderam mais enquanto estiveram presos em casa, certamente porque descobriram no Youtube ou no TikTok quem respondesse à sua curiosidade. Assim pelo menos as famílias deixavam de gastar tempo e dinheiro a dar com o nariz no portão da escola e sempre recebiam um subsídio para ficar com os filhos, diminuindo o risco de perderem o emprego, como agora acontece.

O problema dos transportes também se resolvia num estalar de dedos. Os caprichosos viajantes em lugar de andarem inexplicavelmente revoltados por pagarem um serviço que não recebem, eram poupados a infindáveis viagens enlatados em comboios que não partem, nem chegam a horas. E, claro, não levavam nas orelhas do empregador, por um pecado que não é seu.

A crise da habitação era outro bico-de-obra instantaneamente solucionado. Durante a pandemia quem podia fugiu dos grandes centros urbanos, fazendo mais pelo combate à desertificação do interior do que mil políticas governamentais juntas. Aliás, de uma penada, concretizavam-se as medidas recentemente anunciadas: os alojamentos locais ficavam desertos, os hotéis a meia haste, e os incómodos turistas que insistem em contribuir para a nossa economia, punham-se daqui para fora. Sugiro ainda um extra: o sorteio de uma “motorhome” na fatura da sorte.

Proibidos os voos, evitava-se a repetição de vergonhas como a da semana passada no aeroporto de Faro, e as horas de espera que se antecipam em consequência das greves anunciadas para a altura da vinda do Papa. Sumia-se, por inerência, a conversa sobre o preço dos altares. Aliás, se não se tivesse levantado o confinamento anterior, a TAP estaria já falida, com a vantagem de que não nos tinham depenado 3,2 mil milhões de euros pelo caminho. Fechados em casa, atentos apenas aos boletins médicos diários, já ninguém teria cabeça para a senhora Christine, nem para o balúrdio que no final do dia o seu “despedimento em direto” nos vai custar.

Dr. António Costa, pense!, até o buraco negro do SNS se disfarçava. Obrigados de novo a atender apenas uma doença, talvez dessem conta do recado. E sempre era uma nova oportunidade de nos explicarem como é que as 35 horas por semana tornaram mais fácil organizar turnos de oito horas. E os louvores que escutaria pelo contributo de Portugal para o combate às alterações climáticas? E a gratidão dos passarinhos, que voltariam a ter uma Primavera digna de memória? Ai, meu Deus, estou tão contente com a minha ideia que, ao contrário das agências de comunicação chamadas ao serviço, nem sequer vou cobrar IVA.