CRÓNICAS E ENTREVISTAS

 SELFIES REVELAM QUE O TAMANHO CONTA
Publicado em: 26/07/2017
Estudo anuncia que homens tiram selfies de forma a parecerem mais altos e dominadores. O tamanho conta. Que o digam o rei D. Dinis e a Rainha Santa.

Pintura após pintura, a óleo ou a aguarela tanto faz, estátua após estátua, século após século, até aos dias de hoje o erro repete-se: D. Dinis é retratado como sendo mais alto do que D. Isabel de Aragão, quando na realidade era o contrário. Rainha Santa, com toda a certeza, mas respeitosamente mais baixa do que ele.

Muitos dos autores das obras não o terão feito por desconhecimento, já que os livros descrevem a diferença de uns não negligenciáveis dez centímetros a mais para ela, mas como reagiria o público perante uma escultura em que um dos maiores reis de Portugal não chegava às orelhas da sua rainha? No século XIX, quando a máquina fotográfica não deixava mentir, a rainha D. Amélia era obrigada a aparecer sentada, para que D. Carlos surgisse no retrato oficial mais alto do que ela.

E aparentemente nada mudou, pesem todos os discursos politicamente corretos, e a prová-lo estão as selfies, e a forma como são utilizadas. É pelo menos o que diz um estudo da Florida State University, analisado pelo psicólogo David Ludden, na Psychology Today. Para entender os resultados finais da investigação levada a cabo pela equipa de Anastasia Makhanova, é preciso ter consciência de que o ângulo em que nos fotografamos altera a percepção que damos da nossa altura: câmara ao nível dos olhos e a imagem representa-nos com acuidade; se for tirada de cima, a cara e os olhos ficam maiores, e o resultado é que parecemos mais baixos e mais novos, mas se optarmos por nos fotografarmos de baixo para cima, enfatizamos o queixo, e parecemos mais altos e dominadores.

Se for como eu, não sabia nada disto, mas os investigadores norte-americanos analisaram detalhadamente as selfies publicadas em sites de encontros e em redes profissionais e concluíram que a maioria das pessoas obedece ao pressuposto antropológico que dita que os machos mais altos e mais fortes dominam, e que a vida corre melhor às fêmeas que não se apresentam como ameaçadoras. Ou seja, os homens tiram selfies de baixo para cima quando o "target" são outros homens (domínio), selfies a direito quando destinadas a mulheres (protetores), e as mulheres retratam-se de cima se o alvo é masculino (submissão), e a direito quando se dirigem a outras mulheres (protetoras).

Numa segunda etapa, os investigadores desceram ao terreno, entregando máquinas fotográficas a universitários, pedindo-lhes autorretratos. A metade das cobaias foi dito que as fotografias seriam vistas por pessoas do mesmo sexo, enquanto o outro grupo recebeu a informação de que seriam mostradas ao sexo oposto. E, zás, tudo se confirmou.

Sobrava perceber se os "observadores" interpretavam a informação segundo os mesmos pressupostos e se eram influenciados por ela, e mais uma vez a resposta foi sim.

O que significa, diz David Ludden, que por muito que cada um de nós esteja honestamente convencido de que age livremente, na realidade não se apagam facilmente estes traços ancestrais, inscritos em nós há milhões de anos. O que fazer, então? Depende de quem queremos ser. Podemos continuar alegremente a manipular ou, tomando consciência dos nossos preconceitos, esforçarmo-nos para os superar. Cá por mim fico à espera de quem tenha coragem de retratar D. Dinis e D. Isabel como realmente eram, na certeza de que os centímetros a mais ou a menos não alteram em nada nem quem foram nem o papel extraordinário que desempenharam na construção de Portugal.

Nota: para saber mais leia https://www.psychologytoday.com/blog/talking-apes/201706/the-psychology-selfies